É interessante e ao mesmo tempo muito triste observar que uma das acusações mais repetidas contra os escolásticos, especialmente contra Tomás, é a de terem erigido sistemas racionalistas. Nada mais injusto do que tal juízo! Se existe algo que o homem medieval herda do cristianismo e que se torna notório em toda a Idade Média, é uma postura antirracionalista frente à realidade que o cerca.
Mas o que é o racionalismo? O racionalismo, de forma geral, consiste em pensar que tudo o que seja cognoscível ou que se pode conhecer está ao alcance da razão. Há vários tipos de racionalismo. Há o racionalismo idealista e há o racionalismo empirista. Entretanto, existe algo em comum em todos eles: a convicção de que a razão é capaz de exaurir toda a realidade que nos cerca. Diferentemente do racional, que acredita que a razão tem um poder limitado e não pode abarcar tudo o que há de cognoscível, o racionalista atribui a razão um poder ilimitado.
O antirracionalista é aquele que reconhece a inépcia da razão para captar toda a cognoscibilidade do real, sem descurar, todavia, que estas realidades, incognoscíveis quoad nos, existam e sejam cognoscíveis in se. Tomás de Aquino, por exemplo, acreditava que, em relação a Deus, podemos saber se é – ant est – mas não temos como conhecer o seu quid est. Por conseguinte, ao contrário do racionalista, o antirracionalista crê que há verdades certas e necessárias, conquanto não demonstráveis por nossa lógica racional.
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